A
primeira e única carta que você escreveu sobre o nosso amor, nesse momento, está em minhas mãos.
Encontrei-a, após sete longos anos de separação, em meio a antigos livros
usados e guardados cuidadosamente no fundo do meu armário. De súbito, quando
toquei o envelope e li seu nome estampado no papel branco meu coração parou e
minha alma retrocedeu o tempo. Por alguns milésimos de segundos me vi dentro
daquele apartamento branco encarando seus olhos frios, após uma discussão.
Sempre achei que ficaríamos juntos para sempre. Eu sei, o pensamento é meio infantil, bobo, mas é a verdade. Eu achava que o amor era capaz de suportar tudo. Seu ciúme. Sua paranoia. Sua frieza. Seus jogos mentais. Sua crueldade. A minha inocência. A minha imaturidade. A minha fragilidade de ser uma alma que não suporta o raso demais. Mas você não era raso, ao contrário. Você era o amor que pedi a ele ajoelhada ao pé da cama, após completar os meus dezenove anos.
Lembro-me de estar cansada de ser “sozinha” e você surgiu como uma esperança de vida. Finalmente o amor havia chegada e eu seria, por fim, feliz...
Nada feito! O "amor" só piorou a minha angústia humana. Eu vivia dentro de uma bolha aristocrata e sagrada. Eu não tinha coragem de estourar essa bolha, pois o medo da morte era maior do que o da liberdade.
Meu coração idiota amava cada pedacinho seu, sua risada atônita, seus olhos verdes-esperança, seu toque cuidadoso, seu jeito de andar meio torto, seu cheiro “ogrodoce”, seu medo de me perder que se estampava nos seus abraços, atos e expressões faciais.
Eu amava o
modo como você me amava. Mas eu odiava o modo (que) eu deveria te amar de
volta. Perdendo-me de mim mesma.
Naquela manhã de novembro você foi
embora sem dizer nada. Apenas abriu a porta de nossa vida e se foi...
Naquele dia, naquela semana, naquele mês, naquele ano eu chorei um mar de desamor. Chorei a dor de perder uma parte do meu corpo e não saber o que fazer com o que restou.
A casa. O estudo. O trabalho. O
tratamento psicológico. Os amores que vieram depois. Nada. Nada me dava vontade
de ser viva.
Eu vivia uma obsessão, plantada por
você, que me sucumbia a cada dia. Toda a
sua agressão psicológica me causou o medo de me apaixonar novamente. Tornei-me fria
e cruelmente observadora. Eu era a sua nova versão: coração de gelo.
Mas houve uma manhã na qual acordei e
a dor havia ido embora. Nesse dia, eu vi o céu tão azul e percebi que o
verdadeiro amor estava dentro de mim e se materializava no vento, nas nuvens, na
rosa que acabará de brotar. Nesse momento, finalmente, entendi suas palavras: “O
amor, este objeto facilmente confundido com a graça, é algo puro e que não vem
de nós”.
Entendi que o amor não aprisiona, mas
te dá asas. O amor te oferece à liberdade de ser quem tu és, sem máscaras, sem
personagens. O amor aquece e te dá à coragem de enfrentar o mundo e suas
mazelas. O amor é uma dádiva de Deus que não nos deixa experimentar a solidão.
O
amor conduziu o nosso reencontro, o nosso perdão e as nossas vidas construídas separadamente.
Você seguiu amando outra pessoa. E eu sigo deixando um pouquinho de amor por onde passo.
Que lindoooo, fiquei emocionada <3
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