Ele morreu, ontem à
noite. Eu estava deitada na cama dentro do meu quarto, quando o ouvi morrendo.
Foi um som inconfundível. Fiquei parada escutando o silêncio, pensando que deveria
ter falado ao menos uma vez que o amava. Poderia ter fitado mais o seu rosto
para guardar na lembrança suas expressões faciais, de certo que eu já as
conhecia, mas com o passar dos anos elas mudaram e eu não dispunha de tempo
para observá-lo.
Passei a noite na insônia,
daqui a algumas horas já seria manhã, depois chegaria a sexta feira, março ou
dezembro, questão de dias, de tempo. Tudo sempre passa muito rápido “- Daqui a
alguns anos você vai olhar para trás e se perguntar o que exatamente você fez
com a sua juventude” Ele costumava me dizer essa frase nas tardes de domingo
minutos antes de se embrenhar no mato. Sempre imaginei que pessoas como ele não
morriam, nasceram para viver eternamente, mas o para sempre... Sempre acaba –
como diz aquela música da Cássia Eller.
Então chegou a manhã,
chegou a hora de vestir preto, de sentar no banco de madeira e orar. Foi só
então, encarando aquele rosto pálido, aquele corpo sem alma dentro de uma caixa
de madeira que percebi o sinalzinho de nascença que ele possuía na testa, eu
nunca havia reparado naquele sinal antes, falta de tempo. Fiquei em pé
esperando que ele sorrisse para mim. Nada, nunca mais aquele riso.
Nunca mais tantas
coisas.
Dentro de mim existe a
esperança da volta dele, nunca imaginei que a casa ficaria tão vazia sem a sua presença. Mas era tarde demais, o tempo o roubou, assim como roubou o amor
da minha vida, meus amigos, minha família, minha juventude e a esperança do
eterno. Agora só me resta comprar flores, algumas para o túmulo dele, outras
para o meu.
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